
No estudo de “Movimentos Sociais” fica caracterizado um vasto campo teórico e metodológico em busca de um entendimento ou, consenso entre seus pesquisadores. Ao tentar esclarecer cientificamente tal fenômeno social, as abordagens teórico-metodológicas são as que justamente problematizam e aprimoram o entendimento sobre os Movimentos Sociais, levando-se em conta à própria inclinação ideológica do pesquisador.
Portanto, a sistematização deste vasto campo teórico e metodológico é fundamental. As considerações de Maria da Glória Gohn são pertinentes neste propósito ao levar em conta sua reflexões sobre o tema em duas de sua sobras, “Movimentos Sociais no século XXI” [1] e “Teorias dos movimentos sociais”[2] No primeiro livro, especificamente o texto sobre Movimentos sociais na atualidade, Gohn analisa de forma mais ampla as abordagens teóricas sobre os movimentos sociais. O divide em questões preliminares, cronologia dos conceitos, novas formas de associativismo e os Movimentos sociais no Brasil de forma geral e no século XXI. No segundo livro vamos abordar apenas os capítulos 2 e 3, Teorias contemporâneas norte americana e os movimentos sociais sobre a ótica da mobilização política, respectivamente.
Em seu primeiro livro Gohn já determina de forma abrangente o seu entendimento sobre movimentos sociais, seria uma ação social de caráter sócio, político e cultural e que expressa as necessidades da sociedade através de mobilizações, passeatas e atos de desobediência civil. Ainda esclarece que os movimentos sociais, mesmo não tendo um vínculo direto com o passado, eles assimilam a partir de uma memória pré-estabelecida uma idéia para as lutas travadas no presente. E, há ainda dois tipos de movimentos sociais, os conservadores baseados em xenofobias ou fanatismos religiosos, que são caracterizados em ideologias não democráticas, como o terrorismo. E os movimentos progressistas, de cunho emancipatório de inclusão social com estratégias e objetivos menos reivindicatórios e em busca de outros resultados mais relevantes para o movimento.
Ao abordar as novas formas de associativismo nos anos noventa, a autora faz uma interessante diferenciação. Os movimentos estariam até os anos 80 vinculados a mobilizações de massa e com grande compromisso ideológico, já as novas formas de associativismo dos anos noventa, acentuariam o maior dinamismo com uma mobilização pontual e temática. Neste último segmento haveria uma flexibilização da ideologia e mais ação em busca de resultado. Há um forte vínculo com o conceito de cultura cidadã baseado em valores éticos universais, impessoais e, segundo a autora, com uma forte concepção democrática radical. O qual engloba na Participação cidadã, direitos e deveres, diferentemente da idéia Neoliberal que só destacaria os deveres e a coisificação do cidadão reduzido a mercado consumidor.
Ao abordar os movimentos sociais no Brasil, a autora também determina uma diferenciação entre os movimentos até os anos 80 como homogêneos em oposição ao regime militar e, os movimentos dos anos noventa e do início do novo milênio, cujo grau de manifestação tendeu a cair com uma forte desmobilização. A sua explicação insere-se na segmentação dos movimentos após a redemocratização, com vários movimentos de temáticas diferentes com a diversificação das redes sociais e o surgimento das ONG’s, com um novo discurso e estratégias.
“Ocorreram, entretanto, alterações profundas no cotidiano da dinâmica dos movimentos populares. De um lado eles perderam visibilidade (porque, ao longo dos anos 90, os movimentos populares urbanos diminuíram as formas de protestos nas ruas (...), e houve um deslocamento dessa visibilidade para as ONG’s. (...) Seus discursos se alteraram em função da mudança da conjuntura. (...) Não se tratava mais de se ficar de costas para o Estado, mas de participar das políticas, das parcerias (...) Eles ajudaram a construir outros canais de participação (...) contribuíram para a institucionalização de espaços públicos (...)”[3]
Dessa forma, as ONG’s muitas vezes, criaram parceria com o Estado, o que vincula a sociedade civil organizada com o poder público através de vários programas do governos com a participação popular.
Em problematização às considerações de Gohn, poderíamos primeiramente indicar uma controvérsia sobre o que ela define como movimentos sociais conservadores, vinculados a ideologias não democráticas. Essencialmente quando exemplifica o terrorismo como característico deste movimento. Não podemos estereotipá-lo de conservador sob um viés do pensamento ocidental, sem levar em conta questões culturais, sentimento de identidade, costumes sociais e essencialmente sua historicidade. Não poderíamos considerar o ato de terrorismo também como um caso extremo de reação contra o seu dominador? Não nos remeteria tal movimento ao uso de estratégias com objetivos de resultados relevantes ao seu movimento, ao levar em conta as novas formas de associativismo dos anos noventa? Os movimentos sociais mesmo de características bizarras e primitivas não deveriam levar o pesquisador à parcialidade da análise social. Poder-se-ia vincular suas análises, por exemplo, a alteridade.
Uma segunda controvérsia é quando Gohn separa os movimentos sociais no Brasil. Uma divisão entre os movimentos sociais até os anos 80 ditos homogêneos e as novas formas de movimentos dos anos 90 ditos heterogêneos. A autora trata os movimentos até os anos 80 de movimentos em oposição ao regime militar (1964-1985) sem levar em conta as formas de protestos existentes naquela época. Como a passeata dos 100 mil de 1968, uma mobilização essencialmente reivindicatória contra a opressão do regime militar. O MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) e ALN (Ação Libertadora Nacional), também contra a ditadura, com influências marxista-leninistas e adeptos da luta armada, entretanto com diferenças quanto ao entendimento marxistas. Havia de alguma forma uma diferenciação de ideologias e existia uma estratégia para alcançar resultados. E por último podemos abordar a segmentação dos movimentos sociais após os anos noventa, são caracterizadas pela autora como movimentos mais dinâmicos que englobam a sociedade civil organizada e o poder público. O arcabouço central deste movimento é a participação cidadã com valores democráticos radicais. Contudo, tais movimentos na verdade, adaptam-se em uma estrutura de valores pré-estabelecidos no interior do próprio neoliberalismo. Há um paradoxo em relação ao entendimento da autora sobre as ONG’s, a medida que são impessoais, segmentam os seus movimentos em temas, e articulam com o poder público, torna-se, assim, complexo a identificação de movimentos espontâneos, surgidos naturalmente da demanda social e de movimentos induzidos, manipulados por grupos dominantes em disputa pelo poder que, para tanto usam da mobilização social para ter credibilidade popular. Enfim, as Ong’s quando segmentam seus movimentos, confirmam o individualismo social, atrelados ao conceito de Multiculturalismo.
[1] GOHN, Maria da Glória ( 2003). “Movimentos sociais na atualidade: manifestações e categorias analíticas”. In.: Movimentos Sociais no início do Século XXI. Petrópolis: Ed. Vozes.
[2] ______. Teorias dos movimentos sociais: Paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Edições Loyola.
[3] GOHN, Maria da Glória ( 2003). “Movimentos sociais na atualidade: manifestações e categorias analíticas”. In.: Movimentos Sociais no início do Século XXI. Petrópolis: Ed. Vozes. Pp. 24.
Portanto, a sistematização deste vasto campo teórico e metodológico é fundamental. As considerações de Maria da Glória Gohn são pertinentes neste propósito ao levar em conta sua reflexões sobre o tema em duas de sua sobras, “Movimentos Sociais no século XXI” [1] e “Teorias dos movimentos sociais”[2] No primeiro livro, especificamente o texto sobre Movimentos sociais na atualidade, Gohn analisa de forma mais ampla as abordagens teóricas sobre os movimentos sociais. O divide em questões preliminares, cronologia dos conceitos, novas formas de associativismo e os Movimentos sociais no Brasil de forma geral e no século XXI. No segundo livro vamos abordar apenas os capítulos 2 e 3, Teorias contemporâneas norte americana e os movimentos sociais sobre a ótica da mobilização política, respectivamente.
Em seu primeiro livro Gohn já determina de forma abrangente o seu entendimento sobre movimentos sociais, seria uma ação social de caráter sócio, político e cultural e que expressa as necessidades da sociedade através de mobilizações, passeatas e atos de desobediência civil. Ainda esclarece que os movimentos sociais, mesmo não tendo um vínculo direto com o passado, eles assimilam a partir de uma memória pré-estabelecida uma idéia para as lutas travadas no presente. E, há ainda dois tipos de movimentos sociais, os conservadores baseados em xenofobias ou fanatismos religiosos, que são caracterizados em ideologias não democráticas, como o terrorismo. E os movimentos progressistas, de cunho emancipatório de inclusão social com estratégias e objetivos menos reivindicatórios e em busca de outros resultados mais relevantes para o movimento.
Ao abordar as novas formas de associativismo nos anos noventa, a autora faz uma interessante diferenciação. Os movimentos estariam até os anos 80 vinculados a mobilizações de massa e com grande compromisso ideológico, já as novas formas de associativismo dos anos noventa, acentuariam o maior dinamismo com uma mobilização pontual e temática. Neste último segmento haveria uma flexibilização da ideologia e mais ação em busca de resultado. Há um forte vínculo com o conceito de cultura cidadã baseado em valores éticos universais, impessoais e, segundo a autora, com uma forte concepção democrática radical. O qual engloba na Participação cidadã, direitos e deveres, diferentemente da idéia Neoliberal que só destacaria os deveres e a coisificação do cidadão reduzido a mercado consumidor.
Ao abordar os movimentos sociais no Brasil, a autora também determina uma diferenciação entre os movimentos até os anos 80 como homogêneos em oposição ao regime militar e, os movimentos dos anos noventa e do início do novo milênio, cujo grau de manifestação tendeu a cair com uma forte desmobilização. A sua explicação insere-se na segmentação dos movimentos após a redemocratização, com vários movimentos de temáticas diferentes com a diversificação das redes sociais e o surgimento das ONG’s, com um novo discurso e estratégias.
“Ocorreram, entretanto, alterações profundas no cotidiano da dinâmica dos movimentos populares. De um lado eles perderam visibilidade (porque, ao longo dos anos 90, os movimentos populares urbanos diminuíram as formas de protestos nas ruas (...), e houve um deslocamento dessa visibilidade para as ONG’s. (...) Seus discursos se alteraram em função da mudança da conjuntura. (...) Não se tratava mais de se ficar de costas para o Estado, mas de participar das políticas, das parcerias (...) Eles ajudaram a construir outros canais de participação (...) contribuíram para a institucionalização de espaços públicos (...)”[3]
Dessa forma, as ONG’s muitas vezes, criaram parceria com o Estado, o que vincula a sociedade civil organizada com o poder público através de vários programas do governos com a participação popular.
Em problematização às considerações de Gohn, poderíamos primeiramente indicar uma controvérsia sobre o que ela define como movimentos sociais conservadores, vinculados a ideologias não democráticas. Essencialmente quando exemplifica o terrorismo como característico deste movimento. Não podemos estereotipá-lo de conservador sob um viés do pensamento ocidental, sem levar em conta questões culturais, sentimento de identidade, costumes sociais e essencialmente sua historicidade. Não poderíamos considerar o ato de terrorismo também como um caso extremo de reação contra o seu dominador? Não nos remeteria tal movimento ao uso de estratégias com objetivos de resultados relevantes ao seu movimento, ao levar em conta as novas formas de associativismo dos anos noventa? Os movimentos sociais mesmo de características bizarras e primitivas não deveriam levar o pesquisador à parcialidade da análise social. Poder-se-ia vincular suas análises, por exemplo, a alteridade.
Uma segunda controvérsia é quando Gohn separa os movimentos sociais no Brasil. Uma divisão entre os movimentos sociais até os anos 80 ditos homogêneos e as novas formas de movimentos dos anos 90 ditos heterogêneos. A autora trata os movimentos até os anos 80 de movimentos em oposição ao regime militar (1964-1985) sem levar em conta as formas de protestos existentes naquela época. Como a passeata dos 100 mil de 1968, uma mobilização essencialmente reivindicatória contra a opressão do regime militar. O MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) e ALN (Ação Libertadora Nacional), também contra a ditadura, com influências marxista-leninistas e adeptos da luta armada, entretanto com diferenças quanto ao entendimento marxistas. Havia de alguma forma uma diferenciação de ideologias e existia uma estratégia para alcançar resultados. E por último podemos abordar a segmentação dos movimentos sociais após os anos noventa, são caracterizadas pela autora como movimentos mais dinâmicos que englobam a sociedade civil organizada e o poder público. O arcabouço central deste movimento é a participação cidadã com valores democráticos radicais. Contudo, tais movimentos na verdade, adaptam-se em uma estrutura de valores pré-estabelecidos no interior do próprio neoliberalismo. Há um paradoxo em relação ao entendimento da autora sobre as ONG’s, a medida que são impessoais, segmentam os seus movimentos em temas, e articulam com o poder público, torna-se, assim, complexo a identificação de movimentos espontâneos, surgidos naturalmente da demanda social e de movimentos induzidos, manipulados por grupos dominantes em disputa pelo poder que, para tanto usam da mobilização social para ter credibilidade popular. Enfim, as Ong’s quando segmentam seus movimentos, confirmam o individualismo social, atrelados ao conceito de Multiculturalismo.
[1] GOHN, Maria da Glória ( 2003). “Movimentos sociais na atualidade: manifestações e categorias analíticas”. In.: Movimentos Sociais no início do Século XXI. Petrópolis: Ed. Vozes.
[2] ______. Teorias dos movimentos sociais: Paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Edições Loyola.
[3] GOHN, Maria da Glória ( 2003). “Movimentos sociais na atualidade: manifestações e categorias analíticas”. In.: Movimentos Sociais no início do Século XXI. Petrópolis: Ed. Vozes. Pp. 24.
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